“Ruídos” de Berna Reale é uma explosão

Com curadoria de Silas Martí, exposição da artista paraense entra em cartas no CCBB trazendo obras que discutem a condição humana diante da desigualdade de gênero, econômica, social e da violência  

 

Se prepare para ser impactado por uma mostra que vai incomodar, provocar, brincar e mexer completamente com sua cabeça. A partir desta terça-feira (16) você já pode ir PERAMBULANDO até a exposição “Ruídos”, da artista visual paraense Berna Reale, que está aberta à visitação na Galeria 3 do CCBB Brasília. E não se iluda, mesmo que as obras ocupem apenas um espaço daquele centro cultural, como dizem por aí, elas vão alugar um tríplex na sua mente. Isso porque as obras discutem, como já foi dito acima a condição humana nesse mundo tão desigual, onde gênero, classe econômica e social e violência importam, mas não do jeito como deveriam.

A mostra, que tem curadoria de Silas Martí, apresenta um recorte da produção da artista de 2009 a 2023 em fotografia, objeto, performance, pintura e vídeo. Em exibição até 10 de março, a visitação é de terça a domingo, das 9h às 21h. A entrada é gratuita, mediante emissão de ingresso no site bb.com.br/cultura ou na bilheteria física. A classificação indicativa é livre.

“Seus trabalhos são todos alicerçados em contrastes potentes, de um lado o visual pop, colorido, que pode remeter à estética publicitária ou mesmo aos exageros do barroco, e, de outro, uma crítica social afiada, a denúncia da precariedade e da violência do Brasil. Daí o ruído. Os trabalhos nos levam para uma sensação de deslumbramento na superfície e ao mesmo tempo cortam esse clima com o que de fato está no cerne deles, a morte, a desigualdade, o assédio, os descalabros políticos”, explica o curador Silas Martí.

Entre a luxúria e a precariedade, a obra de Berna Reale primeiro seduz, para depois denunciar as mais variadas formas de violências contra os grupos mais vulneráveis, como mulheres, moradores das periferias e populações carcerárias. É uma narrativa do que é viver no Brasil, um país barroco, tropical e violento, e o que é ser brasileiro. De fato, ruído é uma quebra na harmonia, é aquilo destruído pelas beiradas, corroído sem que ninguém faça caso até que seja tarde demais.

Em tempo, o Brasil de Berna Reale, lugar central de sua arte, está muito distante da ordem e do progresso. É o país da luxúria ilusória, de cores berrantes e afagos de veludo, e ao mesmo tempo o centro da carnificina, um banquete servido aos abutres, elucida a curadoria.

Quem é Berna Reale? 

   

Nascida em Belém do Pará, ela e é uma das artistas mais importantes no cenário brasileiro atual, sendo reconhecida como uma das principais expoentes da prática de performance no país. Reale iniciou sua carreira artística no começo da década de 1990. Seu primeiro trabalho de grande impacto, Cerne (25º Salão Arte Pará, 2006), intervenção fotográfica realizada no Mercado de Carne do Complexo do Ver-o-Peso, conduziu a artista ao Centro de Perícias Renato Chaves, onde passou a trabalhar como perita a partir de 2010.

Desde então, Reale tem explorado seu próprio corpo como elemento central da produção de suas performances, fotografias e vídeos. Seus trabalhos, marcados pela abordagem crítica aos aspectos materiais e simbólicos da violência e aos processos de silenciamento presentes nas mais diversas instâncias da sociedade, investigam a importância das imagens na manutenção de imaginários e ações brutais. A potência de sua produção reside na contraposição entre o desejo de aproximação e o sentimento de repulsa, ressaltando a ironia que resulta da combinação entre o fascínio e a aversão da sociedade pela violência. A fotografia, nesse contexto, desempenha um papel fundamental. Ela não é apenas o meio de registro de suas ações, capaz de perpetuá-las, mas um desdobramento de seu processo de criação. A artista vive e trabalha em Belém, Pará, Brasil.

PERAMBULE JÁ!

“Ruídos”, de Berna Reale / CCBB Brasília – Galeria 3 / De hoje até 10 de março de 2024, terça a domingo, das 9h às 21h / Infos: 3108-7600 – @ccbbbrasilia ou bb.com.br/cultura / Ingressos gratuitos no site e na bilheteria física do local / Classificação Indicativa Livre

 

Fotos: Divulgação

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