FGV Arte e IDP inauguram mostra que reúne mais de 300 obras de cerca de 150 artistas, sobretudo mulheres como Maria Martins, Marianne Peretti e Daiara Tukano
Inaugurada na última quarta-feira (25), no Museu Nacional da República, a exposição Brasília, a arte do planalto traz um olhar sui generis sobre a capital federal como um lugar do feminino, que parte da inspiração de Vera Brant, um nome que atravessa a história nacional a partir da criação de Brasília até a produção artística contemporânea brasileira. Com curadoria de Paulo Herkenhoff e cocuradoria de Sara Seilert, a mostra é realizada pela FGV Arte (espaço experimental e de pesquisa artística da Fundação Getulio Vargas), em parceria com o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), e fica aberta para visitação gratuita até o dia 24 de novembro.
Segundo o curador, a escritora Vera Brant (1927-2014), mineira de Diamantina que mudou-se para Brasília em 1960, foi tecelã de uma importante rede social que uniu JK, Niemeyer, Athos Bulcão, Darcy Ribeiro, Wladimir Murtinho, UnB, Gilmar Mendes, Zanine Caldas, Rubem Valentim e Galeno. “Ela foi o primeiro e generoso periscópio para enxergar Brasília como uma rede extratemporal e extraterritorial”, conta Herkenhoff.
Essa mobilidade de Vera Brant por campos de ação tão variados serviu como um guia para o grupo curatorial perceber que Brasília, além do campo predominantemente masculino do poder, é uma cidade feminina. “A exposição reforça o feminino a partir do grupo de mulheres escultoras da capital federal, como Maria Martins, Mary Vieira e Marianne Peretti. É interessante também como o discurso sobre a arte em Brasília é feito predominantemente por mulheres”, instiga o curador.
As obras de Maria Martins, por exemplo, estabelecem um forte diálogo com esse espaço feminino na arte, rejeitando o papel de subserviência e colocando a mulher em uma condição de corpo desejante. Entre outras artistas presentes na exposição, estão Adriana Vignoli, Daiara Tukano, Raquel Nava, Clarice Gonçalves, Camila Soato, Maria Bonomi, Severina, Maria do Barro, Adriane Kariú, Alessandra França, Regina Pessoa e Zuleika de Souza.
Brasília, a arte do planalto expande também seu olhar para os tempos atuais e a arte que é feita no Centro-oeste, mais especificamente nesta região do planalto central brasileiro, onde há mais de sessenta anos foi instalada a nova capital. “Na exposição, nós aproveitamos para fazer uma referência às mulheres indígenas, com suas técnicas tradicionais de cerâmica, porque cabia à elas fazer cerâmica nos povos originais instalados no Centro-Oeste”, diz Herkenhoff.
De fato, a ideia que direcionou a mostra foi a de reproduzir uma grande festa do olhar, mostrando que a capital federal, que não se reduz à sua esfera política, é intensa, ampla e surpreendente. “Essa mostra significa também um encontro entre dois olhares curatoriais. Porque agora nós unimos os olhares da Sara Seilert com o meu. Então nós buscamos produzir um olhar sobre Brasília. Assim, já não é mais apenas um olhar de fora”, afirma o curador.
Desdobramentos contemporâneos
Com uma quantidade impressionante de artistas, desde os já consagrados no mercado da arte até os contemporâneos, a mostra reúne mais de 300 itens. Sucedendo Brasília, a arte da democracia, exposição realizada no Rio de Janeiro de abril a agosto deste ano, a nova mostra retrata a história da cultura artística do planalto, sua diversidade e complexidade e seus desdobramentos atuais. Enquanto a exibição carioca tratava da passagem da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília, junto da consolidação das estruturas republicanas, a que está exposta no Museu Nacional da República aborda a dimensão estética do surgimento de Brasília, entendida como uma obra de arte coletiva. Ao mesmo tempo, põe em destaque um elenco de agentes culturais da capital e das cidades-satélites.
“A vinda da exposição para o Museu Nacional da República contou com a minha participação na ampliação da abordagem dessa possível narrativa da história da arte brasiliense. Então, ganhamos espaço para a inclusão de novos artistas e eu incluí algumas obras do acervo do Museu Nacional da República, que é uma instituição que cresceu e floresceu junto a essa produção artística contemporânea”, avalia Sara Seilert.
A exibição conta com documentos históricos, como o diploma de candango – conferido aos operários que levantaram a nova cidade por Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil de 1955 a 1961, responsável pela construção de Brasília e a transferência do poder do Rio de Janeiro para o planalto central; o croqui do plano piloto assinado por Lúcio Costa; e o manuscrito de Oscar Niemeyer sobre o monumento JK. Esse projeto representa, segundo Sara, “a diversidade da arte contemporânea do Distrito Federal”, assim como o seu processo histórico e espontâneo. A ideia é que, ao visitar a mostra, o público se sinta convidado a compreender a região geográfica em toda a sua potência criativa. Veja uma pequena parcela do que a exposição oferece enquanto experiência, clicando neste link.
Artistas [ordem alfabética]:
Adriana Vignoli; Adriane Kariú; Adriano e Fernando Guimarães; Ailton Krenak; Alberto da Veiga Guignard; Alessandra França; Alexandre França; Alfredo Ceschiatti; Alfredo Fontes; Alice Lara; Antonio Obá; Athos Bulcão; Bené Fonteles; Benjamin Silva; Bento Viana; Bernardo Figueiredo; Betty Bettiol; Bruno Faria; Bruno Giorgi; Bruno Jungmann; Caio Reisewitz; Camila Soato; Candida Hofër; Carpio de Moraes; César Becker; Chico Amaral; Christus Nóbrega; Cildo Meireles; Clarice Gonçalves; Dadá do Barro; Daiara Tukano; Danyella Proença; Davi Almeida; Dirceu Maués; Edu Simões; Elder Rocha; Evandro Prado; Evandro Salles; Fayga Ostrower; Fernando Lindote; Francisco Galeno; Frans Krajcberg; Fred Lamego; Fulvio Roiter; Gabriela Biló; Gaspari Di Caro; Gê Orthof; Glênio Bianchetti; Gregório Soares; Grupo Poro; Gu da Cei; Guy Veloso; Hal Wildson; Hassan Bourkia; Helô Sanvoy; Hugo França; Isabela Couto; Ismael Monticelli; João Angelini; João Trevisan; Joaquim Paiva; Jonathas de Andrade; Josafá Neves; José Ivacy; José Roberto Bassul; Juvenal Pereira; Kazuo Okubo; Kurt Klagsbrunn (foto de capa – Palácio do Alvorada, s.d.); Lêda Watson; Leo Tavares; Leonardo Finotti; Lina Bo Bardi; Luciana Paiva; Lucio Costa; Luiz Alphonsus; Luiz Mauro; Marcel Duchamp; Marcela Campos; Marcio Borsoi; Maria Bonomi; Maria do Barro; Maria Martins; Marianne Peretti; Mary Vieira; Miguel Rio Branco; Milan Dusek; Milton Guran; Milton Ribeiro; Nelson Maravalhas; Nicolas Behr; Orlando Brito; Oscar Niemeyer; Osvaldo Carvalho; Patrícia Bagniewski; Paul Setubal; Paulo Bruscky; Paulo Werneck; Pedro Ivo Verçosa; Pedro Motta; Quinca Moreira; Rafael Prado; Raissa Studart; Ralph Gehre; Raquel Nava ; Regina Pessoa; Reynaldo Candia; Ricardo Stuckert; Roberto Burle Marx; Roberto Polidori; Rochelle Costi; Romulo Andrade; Rosângela Rennó; Rubem Valentim; Sebastião Reis; Sergio Adriano H; Sergio Augusto Porto; Sergio Rodrigues; Sérgio Vega; Severina Gonçalves; Shevan Lopes ; Siron Franco; Talles Lopes; Todd Eberle; Thomas Kellner; TT Catalão; Usha Velasco; Vik Muniz; Vitor Schietti; Wagner Barja; Walter Sanches; Wilson Piran; Xadalu; Xico Chaves; Zanine Caldas e Zuleika de Souza.
Quem vai?
Brasília, a arte do planalto / Museu Nacional da República – Setor Cultural Sul, Lote 2 – Brasília (DF) / Até 24 de novembro 2024 – terça-feira a domingo, 9h às 18h30 / Entrada gratuita / Classificação Livre / Siga @museunacionaldarepublica
Fotos: Pedro Iff, Kiko e Gilberto Evangelista