Mistura de drama com suspense dá o tom da nova obra do aclamado diretor Christopher Nolan que traz a vida do pai da bomba atômica
Qual tipo de filme mais mexe com você? Para este colunista, com certeza, aqueles que mostram o lado mais escuro do ser humano. E aqui não estou falando de ficção científica, fantasia ou aventura com super-heróis e personagens de outros mundos. Estou falando do lado negro que cada um tem dentro de si e que, em determinados momentos da nossa história, se revela de modo minimamente vergonhoso, em episódios que questionamos o porquê daquilo tudo. E neste caso, estou me referindo à segunda grande guerra mundial.
Taí um tema que me chama a atenção ao mesmo tempo que me emociona, onde o cinema encontra ali, uma fonte inesgotável de histórias para contar. Oppenheimer, que entra nesta quinta-feira (20) em cartaz nos cinemas brasileiros, é daqueles filmes para quem tem estômago forte. E já adianto que nenhuma morte aparece na tela. A firmeza que me refiro é relembrar um momento histórico inevitável, que mudou o mundo para sempre, com consequências catastróficas até hoje: a fabricação (e o lançamento) da bomba nuclear.
Entregue a Chirstopher Nolan, criativo diretor que mistura elementos da arte cinematográfica ao formato blockbuster como ninguém, o filme traça o percurso de vida de J. Robert Oppenheimer, renomado físico que dirigiu o Projeto Manhattan e, por isso, considerado o pai do mortífero artefato. Reunindo alguns dos principais cientistas mundiais em um “acampamento” em Los Alamos (Novo México/EUA), a iniciativa envolveu algo em torno de 13 mil trabalhadores, a um custo de dois bilhões de dólares naquela época (1939 a 1945) deixando como questão (ética, vamos assim dizer), se de fato teria sido necessário lançar Little Boy e Fat Man sobre Hiroshima e Nagasaki, nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, matando um número próximo a 300 mil japoneses (vítimas do impacto e da radiação provocada nas duas cidades).
Memória histórica resgatada, Oppenheimer é de fato um filme fantástico e, por mais perturbador que seja, na minha humilde opinião, deve ser visto sim pelo grande público. Mas, atenção, somente a galera que não fica de conversinha na sala de cinema (hábito que deveria ser repensado por quem o mantém), uma vez que a película é repleta de referências de todos os tipos; e porque a direção quase transforma esse drama em um filme de suspense, tamanha é a tensão criada pela sequência dos acontecimentos. Aliado a isso, a grandiosa interpretação do elenco, recheado por grandes estrelas e que tem Cillian Murphy no papel principal. Eu mesmo sou superfã do trabalho que ele faz encarnando o cruel Tommy Shelby em Peaky Blinders da Netflix.
Entre outros destaques do grandioso elenco estão Emily Blunt como Katherine, como a esposa de Oppie; Matt Damon, na pele do General Leslie Groves Jr.; e Robert Downey Jr. (foto acima), que interpreta Lewis Strauss, membro da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos. Ah! O filme é baseado no livro vencedor do Prêmio Pulitzer, “Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer”, de Kai Bird e Martin J. Sherwin (1927-2021). Com orçamento na casa dos US$ 100 milhões, Oppenheimer foi filmado em IMAX 65mm e 65mm em grande formato combinados, incluindo, pela primeira vez, seções de cinematografia analógica em preto e branco em IMAX.
Um grande problema que a obra deve enfrentar, é que ela divide as luzes da ribalta de sua estreia com Barbie (Warner Bros.). Por isso mesmo, o filme da Universal Pictures vai depender muito do boca a boca para conseguir uma boa performance nas bilheterias, assim como outros filmes de Christopher Nolan (foto acima) já conseguiram. Tenet, Dunkirk, Interstellar, A Origem, e a trilogia O Cavaleiro das Trevas somam mais de US$ 5 bilhões em todo o mundo. Acredito que no quesito Oscar, Oppenheimer possa se dar melhor nessa briga, uma vez que o aclamado diretor já levou para casa 11 estatuetas, além de 36 indicações, incluindo duas de Melhor Filme. Se depender de mim, a indicação já está feita. Até mesmo porque, tem fotografia e trilha sonora fantásticas, mas acima de tudo, faz a gente voltar para casa pensando e muito sobre a vida e nossa participação na história que fica. E você, vai indicar também?
Crédito: Universal/Divulgação