Não espere sair com os pensamentos livres, leves e soltos, dando saltinhos do cinema, Barbie só parece estar de brincadeira no seu primeiro filme
Eu relutei muito, do ponto de vista pessoal, se iria assistir ao filme da Barbie que estreia nesta quinta-feira (20) em todo o país porque, naturalmente, sou avesso a tudo que chega dando um chute na porta com estardalhaço, fazendo o maior sucesso por onde passa, provocando aquele efeito manada, onde todo mundo não fala de outra coisa, a não ser tal assunto. Só para vocês terem ideia do tanto de birra que tenho disso, até hoje não li nada do Paulo Coelho, o autor brasileiro de maior sucesso de vendas que temos. Aqueles com mais idade lembram muito bem da febre que foi O Alquimista.
Enfim, diferenças de contexto à parte, o fato de ser um profissional da comunicação totalmente inserido nesse mundo de marketing (digital), me convenceu de que virar as costas para este fenômeno, seria um pecado. E quer saber… ainda bem que fui conferir a película na cabine de imprensa (pois as sessões de pré e estreia, “Deusolivre”, muito cheias!). Mas, mesmo assim, a sala estava lotada de coleguinhas que, assim como eu , se divertiram para valer com as aventuras da boneca na imaginária Barbielândia versus Mundo Real, em um roteiro redondo, recheado por piadas inteligentes igual aos bons filmes de heróis que misturam aventura, ficção e pitadas de comédia na medida certa.
É tanta coisa boa na direção de Greta Gerwig (que assina o roteiro com Noah Baumbach), que me sinto perdido ao tentar fazer uma lista de motivos para “convencer” você leitor a assistir esse que, antes de mais nada, não é um filme para criança. Fato! A garotada poderá se encantar, mas não vai entender metade desse manifesto feminista que esfrega na nossa cara a condição feminina no mundo patriarcal. Porém, está longe de ser panfletário, podem acreditar. Mas vai ter muito marmanjo voltando para casa com uma pulga atrás da orelha, um incômodo real e verdadeiro sobre como eles lidam com as mulheres no cotidiano.
Sem querer trazer qualquer detalhe maior para evitar qualquer tipo de spoiler (uma vez que a Internet já está possuída tem um milhão de vídeos, entre eles o trailer oficial de Barbie), foi muito legal ver que os detalhes fazem uma enorme diferença no filme e que vão te cativar já nos primeiros minutos, como os trejeitos de se movimentar como uma boneca, por exemplo. Digo isso também porque a cena inicial, mesmo que metafórica, dá a dimensão exata da revolução que foi o lançamento dessa boneca pela Mattel no ano de 1959. Inclusive, a empresa de brinquedos americana meio que faz um mea-culpa sobre a imagem perfeccionista de que seu produto de maior sucesso possa ter causado em meninas de diversas gerações ao longo de suas vidas, e agora parece querer se reinventar com os inúmeros questionamentos de status quo que traz ao longo de duas horas de projeção. Até piadinhas de “si própria” rolam na tela e você vai rolar de tanto rir.
Sim, serei mais um a afirmar que a escolha de Margot Robin para viver a personagem principal foi simplesmente ideal. Sim, ela é linda, sim ela é perfeita e sim, ela é uma das melhores atrizes da atualidade. Eu torci bastante para que ela ganhasse o Oscar quando foi indicada por “Eu, Tonya“, em 2018, mas como sempre, Hollywood e seus mistérios. Anyway… voltando ao elenco, ele é recheado de talentos, entre eles Ryan Gosling (“La La Land – Cantando Estações”) como um dos inúmeros Ken, Will Ferrell (“O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy”) Helen Mirren (“A Rainha”), Emma Mackey e Connor Swindells (ambos de “Sex Education”), Michael Cera (“Juno”) e até a cantora Dua Lipa.
Eu poderia continuar escrevendo por horas nessa produção da Mattel, Heyday Films, LuckyChap Entertainment distribuída mundialmente pela Warner Bros. Pictures sobre essa sessentona que considero quase como uma “amiga”. Afinal, cinquentão que sou, tive tantas amigas que tiveram a Barbie como boneca preferida que, em alguns momentos da minha infância, eu posso ter sentido vontade de propor aquela proposta: “Troca pelo meu Falcon só um pouquinho, vai?”. Mas finalizando essa coluna, quero dizer ainda que o figurino é mesmo fantástico! E se você for assistir a esse filme, saiba que será diversão na certa, independente do seu forte teor feminista. Mas é um feminismo que seduz, que faz rir, e faz chorar (sim, várias vezes meus olhos encheram de lágrimas, mas sou desses, que até comercial de margarina me provoca lágrimas). O fato é que, como eu disse no título, é um “soco na cara” de realidade travestida de fantasia. E ainda bem que roxo combina com a enorme paleta de tons do cor de rosa. Boa diversão!
Imagens: Warner Bros. Pictures e Mattel / Divulgação