Carmen, a Grande Pequena Notável é imperdível! Espetáculo que conta a trajetória de Carmen Miranda tem curta temporada e já entra na sua segunda semana de exibição
Este texto começa de um modo diferente, com uma pergunta que não quer calar: Querides Leitores, já assistiram “Carmen, a Grande Pequena Notável”? Ok, vocês podem estar com vontade de retrucar dizendo: “Mas como assim, se a peça só entrou em cartaz há uma semana?”. Pois é meu povo, o questionamento se faz necessário, porque já tem um tempinho (se é que vocês já não se ligaram) que as temporadas no CCBB Brasília são de apenas três semanas. Dito isso, não percam tempo, pois este colunista garante que, depois de Molière e Jorge Pra Sempre Verão, esta é mais uma das fantásticas produções que ninguém pode deixar de assistir.
Com apresentações de quinta-feira até domingo (veja horários no serviço abaixo), o musical em linguagem de Teatro de Revista segue até o próximo dia 11 de junho, trazendo um resumo da carreira dessa grande estrela brasileira. Na estrada desde 2018, quando estreou em São Paulo, a produção dirigida por Kleber Montanheiro, já foi vista por milhares de pessoas. Em cena, no papel de Carmen Miranda, a premiada atriz Amanda Acosta divide o palco com Daniela Cury, Gustavo Rezende, Gabriella Britto, Jonathas Joba, Júlia Sanchez e Roma Oliveira, além dos músicos Maurício Maas, Betinho Sodré, Monique Salustiano e Fernando Patau.
Inspirado no livro homônimo de Heloisa Seixas e Julia Romeu (vencedor do Prêmio FNLIJ de Melhor Livro de Não-Ficção em 2015), o espetáculo ganhador do APCA de melhor direção artística de 2022 dura cerca de 1h30. Ele se propõem a preservar e homenagear a memória dessa portuguesa naturalizada brasileira, conhecida por todos como a “pequena notável”, e se tornou um ícone musical graças à sua voz, seu gingado e balangandãs, tanto no nosso país, quanto nos Estados Unidos, entre os anos de 1930 e 1950.
Eu poderia ainda escrever linhas e linhas com inúmeras razões para todo mundo ir PERAMBULANDO o quanto antes até o teatro do CCBB, mas, vou me ater somente ao fato de que, segundo um passarinho me contou, as roupas que a protagonista usa em cena foram inspiradas em desenhos originais, fruto de um trabalho de pesquisa hercúleo de Montanheiro (que também é figurinista nessa produção) e que, inclusive, já ganhou o Prêmio São Paulo de Melhor Figurino por “Carmen, a Grande Pequena Notável”. Diante disso, fizemos cinco perguntinhas para ele sobre o assunto, cujas respostas estão nesta entrevista exclusiva concedida para Lackman&CO:
Além de diretor, você também é o figurinista de “Carmen, a Grande Pequena Notável” (e sei que também atua como artista visual, cenógrafo e iluminador). Por que nesta produção você também quis se jogar no figurino?
Normalmente quando dirijo um espetáculo, crio a concepção visual. Muitas vezes acabo chamando um outro profissional para dialogar com essa concepção. Nesse caso do musical Carmen, a direção foi muito inspirada pela ideia das letras da cenografia e da composição de cores do figurino, do preto e branco para o colorido. Por isso acabei assinando as três criações: direção, cenários e figurinos. A direção dependia muito da dinâmica criada pelas letras do nome Carmen presentes no cenário e pela a evolução dos figurinos, onde as pequenas frutas que são bordadas nas roupas pretas e brancas vão evoluindo e aumentando até chegarem na cabeça de frutas da cena no Cassino da Urca. A partir daí os figurinos de todo o espetáculo ficam coloridos. Essa é uma ideia conceitual muito forte e que nasceu junto com a direção.
O que foi mais difícil, o trabalho de pesquisa ou conseguir os tecidos, aviamentos, detalhes para fazer o figurino de Carmen?
Eu acho que foi a escolha do material mesmo, pois eu necessitava de tecidos específicos e bordados que se assemelhassem ao desenho de todo guarda-roupa que foi criado. A pesquisa não foi difícil, temos muito material sobre a Carmen em livros, vídeos, etc. Acho que o grande desafio foi criar um conceito que fosse único para esse espetáculo, e não somente reproduções dos figurinos originais.
A roupa é um “veículo de comunicação pessoal”, vamos assim dizer. Desse modo, o que você acha que a Carmen queria dizer ao mundo pela maneira como ela se vestia para subir ao palco?
Eu vejo muito as ideias que a Carmen trouxe para o seu visual como uma explosão da nossa brasilidade. Além de buscar um estilo único, que se destacasse na época através de um certo exagero, ela ditou moda. Trouxe o sapato plataforma como uma identidade e ao mesmo tempo criou uma linguagem tropical, que acabou influenciando muitos artistas que vieram depois.
Apesar de muitos dos figurinos que Carmen usou serem mais próximos ao conceito de fantasias, você considera que ela rompeu padrões?
Com certeza! Eu não acredito muito na ideia de fantasias, acredito mais no conceito de amplitude, como uma lente de aumento. Acho que Carmen foi muito visionária nesse sentido. No momento onde a moda era muito comportada, Carmen abusou das cores, das caudas que se arrastavam pelo chão, dos plissados e franzidos. Além de se utilizar também de estampas, grandes e coloridas. Um abuso para a época.
O sapato plataforma dela foi uma encomenda ao sapateiro que lhe disse algo do tipo, “mas isso não está na moda”, no que ela respondeu “eu nunca segui a moda”, mas deste modo ela não estaria então lançando moda? Qual a herança (ou ensinamento) fashion Carmen nos deixou?
A criação do sapato plataforma segue essa mesma ideia de amplitude. Carmen era baixa de estatura, pensou no sapato para ficar mais alta. Dessa forma ela rompe padrões a partir das suas necessidades e claro, acaba lançando moda. Isso se dá com a identificação de outras mulheres, que se sentem libertas, acreditando em si mesmas, querendo mostrar ao mundo a sua voz. A moda nasce sempre desse rompimento de padrões. A partir de pessoas que não se identificam, que enxergam como óbvio e resolvem se mostrar de uma forma muito pessoal, única, original.
Quer ir?
Musical Carmen, a Grande Pequena Notável, no Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (SCES, Trecho 2), até 11 de junho de 2023 / Quinta a sábado, às 20h; domingo, às 19h – sessões extras: sábado, às 16h – sessão extra com tradução para Libras: 10/06, às 16h.
Ingressos: R$ 30 (inteira), e R$ 15 (a meia para estudantes, professores, profissionais da saúde, pessoa com deficiência (e acompanhante, quando indispensável para locomoção), adultos maiores de 60 anos e clientes BB
Compre: www.bb.com.br/cultura ou na bilheteria do CCBB Brasília
Informações: (61) 3108-7600 / @ccbbbrasilia
Classificação Indicativa: livre para todos os públicos.
Fotos: Guto Muniz e Divulgação