Mão, uma performance circense que dá frio na barriga

Intervenção dirigida por Renato Linhares ocupa espaços urbanos e aproxima o público da poesia do circo.

Após estrear no último final de semana com sucesso de público e crítica, a performance circense Mão, dirigida pelo artista gaúcho Renato Linhares (Intrépida Trupe e Foguetes Maravilha), segue em cartaz em Brasília até 21 de setembro. O espetáculo, que mistura circo e intervenção urbana, retorna neste sábado (06/09) ao CCBB Brasília e no domingo (07/09) ocupa a Praça São Sebastião, em Planaltina, sempre às 16h, com entra  da gratuita.

Em tempo real, os performers Adelly Costantini, Fernanda Más, Carolina Cony, Daniel Elias, Ernesto Poittevin, Fábio Freitas e Marcelo Callado montam, diante da plateia, peça por peça uma estrutura de ferro e madeira de 8 metros de altura. O processo, marcado por gestos coreografados e acrobacias, propõe uma reflexão sobre a construção coletiva e artesanal do picadeiro — ou, simplesmente, sobre o instante que antecede o salto, o voo e o “frio na barriga”.

Nos próximos finais de semana, a temporada segue com apresentações aos sábados no CCBB Brasília e em diferentes espaços do Distrito Federal: no domingo, 7 de setembro, a performance será na Praça São Sebastião, em Planaltina-DF, às 16h. Já nos domingos 14 e 21 de setembro, o espetáculo ocupará o Eixão do Lazer (altura da 110 Sul), às 15h30, ampliando a experiência para diferentes públicos da capital.

Nos perguntamos como criar uma intervenção que pudesse falar da mão de obra da mão circense. Um ato público que nos permitisse ver as formas de expressão que existem no toque, na ação do construtor, do ponto de vista do artista de circo. Mas também um espetáculo que fosse como a mão, um instrumento articulado, extremo, inconsciente”, explica o performer, coreógrafo e encenador Renato Linhares, que assina a direção do trabalho.

Linhares acrescenta que o resultado é uma obra que convida à reflexão sobre esse ‘construir’ do circo e suas particularidades. “Uma construção coreográfica ou uma coreografia operária. Um ritual que dá a ver a espessura do ferro que segura a lona, o peso da estaca que a mantém de pé, suas equações estruturais, seus barulhos não musicais, seus encaixes únicos, e aquilo tudo que vem antes do salto, do voo, do frio na barriga”, completa.

Cena

Em cena, os performers executam movimentos ordinários de uma construção, como aparafusar e encaixar. Durante a edificação, os artistas se equilibram em uma enorme rampa de madeira, com saltos, acrobacias e giros, possibilitando aos passantes uma espécie de viagem no tempo.

Decidimos levantar uma estrutura em cena e fazer do deslocamento de tubos, ferros, porcas e parafusos uma experiência concreta para poder viajar no tempo, pois construir uma estrutura em um espaço de passagem público pertence à cultura arcaica. Por séculos e séculos pequenos e grandes mundos utópicos foram construídos e destruídos a olhos nus. Pontes, torres, pirâmides, casas, cidades inteiras edificadas e demolidas pelo tempo e pelos homens. Entre grandes incêndios e guerras territoriais, por vezes, vislumbramos distraídos a chegada do circo. Entre colonizações e evoluções tecnológicas, sob nossos olhos, e no decorrer do tempo, vimos o circo se montar e partir, deixando um efêmero rastro de truques e milagres”, comenta Renato Linhares.

Ao final da performance, a grande estrutura é tombada, invertendo seu ângulo, dando-lhe uma nova forma. Inúmeras reações invadem a plateia, que é surpreendida ao ver o gigante objeto, construído diante de seus olhos, sendo deitado no chão. Uma imensa tela verde é usada para cobrir a estrutura, e o interior da tela é preenchido pela aparição de uma fumaça vermelha, que perpassa por ela atingindo o céu. O espetáculo finaliza. Os artistas partem. Ao som de uma música épica, deixam na praça uma enorme escultura. O circo.

Segundo Adelly – idealizadora do projeto, produtora e uma das performers – Mão é uma obra multidisciplinar, feita a muitas mãos, por circenses, bailarinos, músicos e arquitetos. “Em cena, discutimos o ‘trabalho’, a obra edificada fora da galeria, a mão de quem faz a obra, a cidade em obra. É circo em Happening ou uma ode aos trabalhadores”, acrescenta.

Desde a estreia em 2016, Mão já circulou por diversos tipos de público em museus, avenidas, escolas, comunidades, centros urbanos, periferias e também em festivais de circo, dança e performance dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e, pela primeira vez, será vista pelos mineiros. “É uma obra democrática. Sua passagem cria a expectativa ao risco, ao acerto, à possível falha humana. Gostamos da galeria enquanto espaço de exposição de uma obra. Mas gostamos de levar a obra também para avenidas ou parques. Diante dos diversos cenários, pequenas adaptações sempre podem ocorrer. Muitas vezes invadimos a praça dentro de um caminhão, outras vezes o caminhão não tem acesso. O único cenário ideal é que haja um solo firme para erguer a obra”, conclui Adelly.

Agenda das apresentações:

06 de setembro (sábado) – 16h – CCBB Brasília
07 de setembro (domingo) – 16h – Praça São Sebastião – Planaltina – DF

13 de setembro (sábado) – 16h – CCBB Brasília

14 de setembro (domingo) – 15h30 – Eixão Sul – altura da 102 Sul

20 de setembro (sábado) – 16h – CCBB Brasília – sessão com acessibilidade de audiodescrição

21 de setembro (domingo) – 15h30 – Eixão Sul – altura da 102 Sul

 

Vamos #PERAMBULAR?

Performance Circense Mão

/ Centro Cultural Banco do Brasil e outras localidades de Brasília / 30 de agosto a 21 de setembro – sábados e domingos – 15h30 / evento gratuito – no CCBB ingressos pelo site www.bb.com.br/cultura e na bilheteria física / Livre  

 

Fotos: Divulgação
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