Novo álbum teve processo criativo em residência artística realizada em Palermo, na Sicília, em 2018, onde as ruas da cidade e os encontros casuais com pessoas se transformaram em melodias e letras
A música sempre foi uma força que desafiou as certezas de Helena Sofia. Quando a artista paranaense chegou a um ponto de reflexão sobre sua carreira, quase decidindo deixá-la de lado, foi a própria música que a trouxe de volta ao palco. “BRAVA!”, seu novo álbum, não só é uma afirmação de sua trajetória, mas também um recomeço profundo e transformador.
O processo criativo do álbum remonta a uma residência artística em Palermo, na Sicília, em 2018, onde as ruas da cidade e os encontros casuais com pessoas se transformaram em melodias e letras. “Pierre e Danielle, por exemplo, conta a história de duas pessoas que conheci durante a viagem. Siciliano, que abre o disco, foi inspirado por um simples momento de saborear o sumo de um limão”, revela Helena. A visão de que as experiências cotidianas se tornam universais por meio da arte transparece no som do álbum. Ao lado da diretora musical Erica Silva, Helena se lançou na busca pelo conceito de antropofagismo, de Mário de Andrade, misturando referências da cultura brasileira com elementos da música eletrônica e até do reggaeton.

“BRAVA!” é um álbum maduro, mas sem perder a ousadia. Em comparação com seus trabalhos anteriores, como Desejo Canibal (2014) e Tormenta (2016), este novo projeto reflete uma artista mais leve, que busca maior liberdade dentro da MPB que ela mesma denominou como “Música Perturbada Brasileira”. A vontade de ser autêntica e verdadeira com suas raízes musicais persiste, mas agora, de maneira mais fluida, com menos exigência, em um processo mais introspectivo, mas ao mesmo tempo mais expansivo.
“Às vezes, a melodia me diz qual palavra eu preciso buscar. É muito intuitivo”
A trajetória de Helena Sofia como artista sempre foi independente, desde a criação de seu primeiro álbum até agora. A dificuldade em levantar fundos e a constante luta para alcançar o público são algumas das maiores pedras no caminho de um artista independente. “Mesmo com estúdio próprio, gravar não é barato. E a etapa mais desafiadora é a divulgação. Sem dinheiro, a gente não vai muito longe. É um trabalho de formiguinha”, afirma. No entanto, ela vê nessa independência a possibilidade de criar livremente, sem se prender às expectativas de gravadoras ou de tendências mercadológicas.

Esse ethos de liberdade e autenticidade se reflete também em seu processo criativo. Para Helena, o segredo está na conexão imediata entre letra e melodia. “Às vezes, a melodia me diz qual palavra eu preciso buscar. É muito intuitivo”, diz ela, explicando como sua escrita musical flui com a mesma naturalidade das conversas mais sinceras.
Entre as faixas mais pessoais do álbum, Brava se destaca. Escrita no dia da morte de sua avó, essa canção carrega um peso emocional profundo, refletindo a despedida com uma expressão italiana que a avó costumava usar, celebrando a bravura de quem partiu. “Brava” se tornou não só uma maneira de se despedir, mas também um dos maiores pontos de conexão com o público, sendo uma das faixas que mais toca seus ouvintes.
O clipe de Siciliano, gravado em uma pedreira abandonada, também se destaca como uma experiência única de empoderamento feminino. “O matriarcado pode ser a solução para todos os problemas”, Helena brinca, lembrando das dificuldades enfrentadas pela equipe durante as gravações, que foram feitas sob condições adversas. Mas o mais importante foi o fato de que o clipe foi produzido exclusivamente por mulheres, desde a produção até a segurança, um feito significativo em um mundo artístico muitas vezes dominado por outras dinâmicas.
Nas redes sociais, onde Helena se conecta diretamente com seus fãs, a artista se utiliza do Instagram e do WhatsApp para criar uma comunidade mais próxima e pessoal. “Tento usar o TikTok, mas acho que minha idade não permite, hahaha”, ela ri, demonstrando sua abordagem descontraída e real com seu público. Para ela, as redes sociais são essenciais para superar as barreiras impostas pela indústria, e o contato direto com os fãs tem sido fundamental no sucesso do seu trabalho.
Além de sua referência a ícones da MPB, como Gilberto Gil, Milton Nascimento e Rita Lee, Helena também se inspira na ousadia de artistas como Madonna e nas vanguardas da música brasileira. Nomes como Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé são pilares para sua música, e, quem sabe, um dia, Helena possa ver a sua carreira desafiada por uma colaboração com esses ícones. “Eu iria me divertir muito com a Fernanda Takai e o John Ulhoa, do Pato Fu, temos uma energia caótica parecida”, confessa.
“Espero que as pessoas não passem ilesas. Que a música ressoe, faça elas sentir, lembrar, ou pensar sobre algo que ainda querem fazer.”
À medida que BRAVA! continua a ser descoberto, Helena Sofia está de olho no futuro. O próximo passo? “Quero continuar divulgando BRAVA!, gravar mais clipes desse álbum e talvez regravar algumas músicas de Desejo Canibal em uma versão mais intimista e acústica”, planeja, com a mesma energia que a manteve viva como artista ao longo dos anos.
A jornada de Helena Sofia, iniciada ainda na infância com o piano e os corais, não é só uma busca pelo som perfeito, mas por uma conexão real com a alma do ouvinte. Em suas palavras, “Espero que as pessoas não passem ilesas. Que a música ressoe, faça elas sentir, lembrar, ou pensar sobre algo que ainda querem fazer.” E, sem dúvida, Helena segue buscando, a cada canção, um lugar onde o público e ela possam se reconhecer.
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Fotos: Ana Paula Málaga e Divulgação