Dedicado à Nossa Senhora de Fátima, primeiro templo religioso de Brasília faz aniversário e tem muita história para contar
Em meio ao horizonte único de Brasília, onde o concreto se ergue como poesia arquitetônica misturando retas e curvas estonteantes diante de nossos olhos, destaca-se um pequeno santuário de formas singulares e azuis celestiais. A Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, projetada por Oscar Niemeyer e inaugurada em 1958, uma encomenda da esposa de JK, Dona Sarah Kubitschek, em agradecimento pela cura de uma enfermidade da filha do casal. Porém, o prédio é mais que um marco religioso; é um testemunho artístico do movimento modernista que transformou a capital brasileira.
Também conhecida como Igrejinha da 307/308 Sul, ela foi a primeira a ser construída na capital federal, dona de uma estrutura triangular que simboliza a tenda de campanha que abrigou a imagem de Nossa Senhora de Fátima durante a construção da cidade. Athos Bulcão, o mestre dos azulejos abstratos que adornam tantas construções brasilienses, escolheu o prédio religioso para abrigar sua única incursão na figuração. Aqui, seus azuis e brancos se traduzem na pomba que representa o Espírito Santo, e na estrela que faz alusão aquela que orientou os Reis Magos até a manjedoura de Jesus.
Porém, a história da Igrejinha transcende suas paredes azulejadas. Remonta a um tempo em que Brasília nascia do sonho de modernidade de Juscelino Kubitschek, onde grandes artistas como Alfredo Volpi deixaram sua marca, ainda que efêmera. Curiosidade, os afrescos de Volpi, pintados com vigor e desafiando tradições, foram lamentavelmente apagados após resistências de vozes conservadoras, mas não foram esquecidos pelo tecido cultural que permeia esta cidade planejada, tendo sua história contada por Graça Ramos no livro “O Apagamento de Volpi: presença em Brasília”
Hoje, a Igrejinha Nossa Senhora de Fátima está em festa e comemora a data com missas e a população pode ir #PERAMBULANDO até lá para curtir as comidinhas que serão vendidas em barraquinhas, bem no estilo quermesse. O fato é que, 66 anos depois de sua inauguração, ela continua a ser um farol de arte e fé, onde cada detalhe de sua construção se transforma em um convite à contemplação. É um lembrete vivo de como Brasília, em sua busca pela modernidade e harmonia, soube mesclar as visões dos grandes mestres da arte com a visão ousada de seus arquitetos e a fé de seus devotos. Parabéns e muitos anos de vida!
Fotos: Gilberto Evangelista