Marney Costa: “Certamente minha fluidez decide meu caminho”

Em tempos de pronomes neutros, Marney Costa, da marca Moun é exemplo de que esse movimento, anteriormente conhecido como andrógino caminhou por estradas tensas e chegou ao que hoje podemos chamar de agênero ou inglesando pra genderless.

Passear pelo masculino e feminino tirando dessas “divisões” o que é equivalente e costurar equivalências, transformando em roupas o que surge, não é de tudo fácil.

Caminhar por lugares terrenais e conseguir tirar o suprasumo do que as identidades de gênero trazem para agradar com criação de roupas é tarefa árdua, mas como tantas outras funções na vida, não é impossível. Assim como não foi nada fácil iniciar os trabalhos em meio a pandemia. Sim, a Moun saiu do papel e da mente de Marney, durante a quarentena imposta pelo novo coronavírus.

Marney estuda o comportamento da fluidez há alguns anos e acredita que “gritar quem somos não só no empodera, mas dá forças pra ajudar semelhantes a não sofrer com as maldades do mundo padrão”, conta.

Nascido em Conselheiro Lafaiete, interior de Minas Gerais, o jovem Marney foi criado ao lado de seus avós e com sua mãe-solo, Irene, como base. Com uma família repleta de mulheres fortes – que o estilista cita com a admiração lá no alto –, ele viu que um sonho pode se tornar possível. As tias Gracinha, Nilza e Marlene eram criadoras de roupas, bordados e tricôs. Delas, veio o esteio para que, no futuro – que se deu em 2020, ou seja, no nosso belo presente –, sua paixão por moda fosse transicionada em realidade.

A moda da Moun de Marney, que escolheu o Sul do país para viver, vai além do óbvio,  passeia pelo complexo, acha lugar na ousadia e atraca seu enorme navio de possibilidades na realidade. Não há como negar que a sociedade consumidora atingiu um patamar de poder de escolha como nunca visto, entretanto, ainda precisa de um pouco mais de coragem para fazer todo o esforço valer a pena.

Nomes como o de Marney florescem no cenário da moda brasileira e acabam por difundir o que já podemos chamar de “nova moda” um movimento ainda tímido, mas que, certamente estará nos livros de um futuro próximo. Basta analisar. Nomes como o de Marney estarão em listas com outros como Felipe Fanaia, Igor Dadona, Lucas Regal, Drayson Menezzes, Lucas Scafuto, Martins, Diego Favaro e Bruno Olly.

Não é que eles não respeitem as “normas mercadológicas”. Eles buscam outros resultados. A moda nunca esteve tão socialmente envolvida em causas, especialmente, se colocarmos outras praças  (nacionais e internacionais) em debate.

A moda flui assim como as pessoas da atualidade. E Marney, nosso querido personagem de hoje traz reflexão e imagens lindas pra nossa entrevista. Confira o papo.

Nos tempos que vivemos, o que te inspira a criar?

R: Sempre fui apaixonado por tudo que exalasse androgenia, fluidez, e a leveza de perpassar pelo masculino e feminino. Hoje, mais do que nunca, acredito nesse espectro, no quanto podemos ser esse todo sem nos limitarmos ao que uma sociedade julga e nos limita.

Vivemos um tempo em que gritar quem somos não só nos “empodera” mas dá forças para ajudarmos semelhantes a não sofrerem com as maldades do mundo padrão. Por sentir isso na pele das maneiras mais cruéis cheguei no meu limite e pretendo não deixar que ninguém me diga e diga a outra pessoa que ela não tem ou não é o que é preciso para ser feliz.

Quais são seus princípios mais fortes e que podem ser encontrados nas suas criações?

R: Durante a criação da marca o que batia mais forte era o desejo de ser genuíno, de expressar a identidade que ao longo da minha vida me foi tirada. Fazendo terapia e observando desde os 7 anos quando comecei a me dar conta do quanto era “diferente” e “sensível” fui apontado e recriminado é isso foi fazendo com que eu aos poucos deixasse de me expressar como eu realmente era. Minha avó materna sempre foi meu refúgio, a pessoa que mais me protegia dessas maldades do mundo. Ao lado dela eu era o Marney feliz que desenhava vestidos, pegava panos para costurar, corria pela casa com os lenços dela sem me importar e ser recriminado. Hoje acho que estou me conciliando com essa criança e acredito que ninguém merece ser deixado pra trás.

Qual o significado do nome da sua marca?

R: Na dúvida entre usar meu próprio nome e algo que fosse além de mim,  quis escolher uma palavra que representasse todxs, enquanto conversava com um grande amigo me deparei com a palavra MOUN, logo me apaixonei pela quantidade e ambiguidade de sentidos, significados em diversas línguas e senti que assim conseguiria passar por cima das barreiras de gênero para então falar sobre o que significa a marca.

O que prefere, ser um estilista que segue tendências ou alguém que cria sem se preocupar com o que fazem mundo afora?

R: Certamente minha fluidez decide meu caminho, todas as mulheres fortes da minha vida jamais vão ficar pra trás nas minhas criações e traduções do mundo.

A palavra tendência me causa um certo desconforto, mas acredito que podemos olhar ao redor, atender necessidades e conversar sempre com o que está acontecendo em cada momento.

O que define o seu trabalho na marca quanto à questão criativa?

R: A sensação de estar conciliando com meus sentimentos e minha identidade me enche de ânimo e me dá cada vez mais vontade de produzir.

Seu público-alvo é fiel ao seu trabalho? Quais são suas ações para conquistar seus clientes?

R: A marca tem apenas dois meses mas no meu coração ela já existe desde quando eu tinha cinco anos. Na época, ao invés de estar em certos grupos fazendo coisas típicas eu estava desenhando vestidos e vislumbrando esse mundo. Acho que agora é aguardar o retorno do universo. Espero que eu toque muitos Marney’s perdidos por aí em todos os aspectos.

Acredita que é possível ser criativo em tempos de caos?

R: Sou formado em Terapia Ocupacional, e entre minhas formações existe uma teoria que fala sobre desafios na medida certa  e comportamento adaptativo. Acredito que o caos nos movimenta de diferentes formas e pra mim a pandemia por exemplo foi a gota final para abraçar esse sonho.

Quais são suas melhores características enquanto marca?

R: As principais características da marca são liberdade e aceitação. Liberdade para ser quem você quer ser, quando e onde quiser e aceitação dos diferentes padrões de gênero principalmente. A marca preza por uma estética com um toque de minimalismo e uma alfaiataria desconstruída em relação as proporções abrindo espaço para que as peças possam ser usadas independentemente do gênero de quem compra.

E quais são enquanto estilista criador?

R: Tive e tenho a honra de trabalhar também como Terapeuta Ocupacional e a humanidade  e  o aprendizado de sempre ver potencial em tudo e todos que essa profissão me trouxe, sem dúvidas, foi algo muito importante na minha vida, isso sempre vai refletir em quem sou. Minha inspiração aparece por diferentes veias e muitas que nem sei definir apenas sentir.

 

Conheça a Moun

Site: www.mounofficial.com.br

Instagram Moun: @moun_off

Instagram Marney: @costamarney


Fotos: Divulgação/Moun
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